O Memorial da América Latina recebe a exposição Guerra e Paz de Portinari. Os dois painéis de 14m de altura, devidamente restaurados, foram criados pelo artista paulista na década de 1950 e presenteados à Organização das Nações Unidas – ONU de Nova York na mesma época. Na festa de abertura do evento, foi citada uma frase de Portinari que soou para mim como um aforismo libertador:
“(…) uma arte que não fala ao coração não é arte,
porque só ele a entende.”
Lembrei das conversas com meus clientes, ao longo dos anos, sobre como vestir as paredes e percebi que essa frase, sem que eu soubesse, esteve o tempo todo fazendo um bom pano de fundo. Minha sugestão sempre foi comprar e expor aquilo que mais agrade o olhar, que faça o dia mais feliz e encha a alma de prazer. Isso não tem assinatura que pague.
E nosso coração não deve bater apenas por uma assinatura.
Meu coração bate Portinari. Ele faz tun, tun, tun, Tunga…
Desculpem, não resisti!
Essa brincadeira de palavras pode ser óbvia, eu sei. Não importa.
Não resista! Brinque com palavras, brinque com as formas e subverta a ordem das coisas em busca de algo que traga alguma expressão.
Dia desses, fazendo pesquisa de sofás e almofadas, dei de cara com essa elegante composição no hall de entrada de um atelier nos jardins, em São Paulo e meu coração entendeu.
Era uma mistura perfeita de retalhos, com texturas, cores e grafismos. Essa junção de ‘matizes’ sobre a parede branca tem um processo criativo muito parecido com o do artista que põe sua alma na busca de preencher a desafiadora tela branca.
Podemos chamar de arte? Talvez não! Mas que fala ao coração, não há dúvida.
Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa