Cheguei cedo para a o Fórum sobre Design e Arquitetura que aconteceu em março em São Paulo e acabei assistindo à palestra anterior à que eu havia me inscrito.
A palestrante falava sobre a gestão de negócios na área criativa e suas palavras iam montando verdadeiras fotografias em minha cabeça.
A certa altura o assunto era o mercado potencial para um designer de interiores.
Então ela nos convidou a olhar para a cidade e ver quantas janelas poderíamos contar. Segundo ela, esse é o potencial de mercado em nossa área.
Cada janela é um ambiente que pode ser transformado, adequado, ou apenas atualizado. É uma visão bastante otimista, mas muito coerente.
Naquela semana, enquanto esperava, dentro do carro, o farol abrir, o transito andar, a vaga vagar, comecei a olhar para o alto e a observar meu mercado nas janelas.
Para esquecer os clientes em potencial e começar a ver apenas as fachadas dos edifícios espalhados pela cidade não foi preciso muito tempo nem esforço.
Olhar seletivo
Meu olhar é seletivo. Não me interessa tanto as fachadas feitas pelas grandes incorporadoras e seus projetos de apartamentos com 50m² e varanda. Divirto-me muito mais olhando os velhos edifícios de classe média que tentaram, em décadas passadas, diferentes soluções. Algumas muito felizes, outras nem tanto.
Vejam as fotos acima: no edifício à esquerda, provavelmente no boom das fachadas neoclássicas nos anos 1980 alguém resolveu fazer molduras em arco para dar um ar mais “nobre” às pequenas janelas de metal.
Para aumentar o desastre as molduras receberam um tom verde folha.
Pior ainda, o adorno verdolengo foi replicado nas muitas janelas, de tamanhos variados, espalhadas pela fachada.
Já na foto da direita aconteceu exatamente o inverso, com um recurso parecido.
O mesmo arco sobre a janela do primeiro edifício, aqui teve seu conceito ampliado e formou uma capsula que agrupa quatro janelas. Dessa maneira, quase não vemos as pequenas janelas e sim as grandes manchas que desenham a fachada de forma inusitada. Conclusão: temos muito mais janelas com a sensação de ter muito menos.
Dessa maneira meu mercado encolhe, mas fica mais interessante…
Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa