Supermercado! Taí uma coisa que me deixa de mau humor. Lá em casa a coisa é assim: você faz o supermercado, eu faço a feira! Como a feira não tem estado na minha lista de prioridades, me vi no sábado pela manhã com a lista de compras na mão.
Olho para aquelas prateleiras como se estivesse de volta ao colégio bem no meio do corredor polonês, com a diferença que o bulling agora vinha das embalagens. Fui salvo daquela trupe de iguais por uma caixinha amarela inconfundível. A imagem do mingau no prato quase me fez abraçar a amiga de infância.
Cem anos antes de eu nascer a Maizena surgiu nos Estados Unidos e a embalagem vem ao longo dos anos sofrendo alterações. Sem perder suas características principais: amarelo de fundo, ilustração preto e branco e título direto. A caixinha virou até estudo de semiótica. Aplicada ao design a semiótica busca extrair do mesmo, todo o potencial de comunicação daquele signo.
Se os signos representam algo a alguém em determinado contexto, a embalagem da Maizena nos pontos de venda é tão auto-explicativa pela tradição quanto os ônibus vermelhos pelas ruas de Londres. Por isso junto os dois aqui.
Perceba que desde o lançamento dos Routmaster em 1956, cem anos depois da Maizena, os ônibus londrinos sofreram várias alterações, mas continuam os mesmos: dois andares, escada ao fundo e aquela cor que se reconhece de longe. O avanço da tecnologia e do design não eliminou o DNA desse símbolo da cidade.
Agora, amido é amido e ônibus é ônibus. A caixa amarelinha pode ser globalizada e continuar forte, Já o vermelhinho só pode ganhar o mundo nas mãos dos meninos. De preferência em uma mesa junto com o prato de mingau.
Décio Navarro, Arquiteto, Designer e colunista Arquitecasa