Minha primeira formação, nos anos 1970, foi em Desenho Industrial e Comunicação Visual.
Aprendi que a palavra design, proibida àquela época, deveria ser traduzida não por desenho, mas por projeto. Algo criado e desenvolvido para atender uma demanda de mercado.
E nada representa melhor a atividade do Desenhista Industrial do que uma cadeira.
Um Designer, para usar a linguagem corrente, não pode garantir seu lugar na história do design contemporâneo se não tiver em seu currículo ao menos uma cadeira com sua assinatura.
Folheando ‘Cinquenta Cadeiras que Mudaram o Mundo’, livro organizado pelo Design Museum de Londres, dá para ver a trajetória da cadeira nos últimos 150 anos. E dá para ter uma ideia também do grau de dificuldade que designers como Charles and Ray Eames, Marcel Breuer, Alvar Aalto e outros enfrentaram para produzir em série peças com alto grau de criatividade e tecnologia apenas para que pudéssemos descansar nossas bundas com muito estilo.
Apesar de ter focado minha carreira em comunicação visual, sempre acalentei o sonho de projetar uma cadeira que pudesse virar um dos ícones do design brasileiro.
Simples assim! Afinal, pretensão e água benta cada um tem quanto quer…
Muitas folhas de papel e grafite depois cheguei à conclusão de que inventar algo revolucionário em termos de cadeira não era pro meu bico. Eu poderia no máximo fazer uma releitura para fugir da terrível palavra certa para isso.
Penso, logo…
Penso, logo desisto! Mas não desisti totalmente das cadeiras.
Ao contrário, procuro sempre preservar as cadeiras que tenham bom potencial para continuar na casa de meus clientes e, se possível, com lugar de destaque no ambiente.
Elas passam a acompanhar mesas contemporâneas de diferentes estilos ou mesas criadas especialmente para acompanha-las.
As duas peças acima eu salvei de destino sórdido: a caçamba de entulho.
O primeiro passo foi enviar as peças para um pintor que removeu e renovou o velho verniz e laqueou as madeiras usando compressor e tinta automotiva em tom vibrante.
A seguir selecionei tecidos que fizessem boa parceria com as novas cadeiras.
Um tapeceiro fez o estofamento usando o próprio assento como base da almofada fixa.
Sei que elas não vão atravessar o século XXI, mas que ganharam uns bons anos pela frente, isso ganharam!
Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa