Gosto de andar a pé por São Paulo. Me aproximo da cidade. Parece coisa de maluco, mas confesso me sentir mais seguro a pé do que dentro do carro.
Apesar dos muros e edifícios cada vez mais altos, ainda posso cumprimentar a senhora que passeia com o cachorro, falar sobre o tempo e a vida (alheia ) com o senhor do último sobradinho da esquina e dar um olá para a moça da padaria.
Esse é o lado bom da história. O lado ruim é que em minhas andanças percebo como a cidade está doente. As calçadas, por exemplo, sempre muito estreitas, ao invés de nos proteger parecem nos arremessas para junto (ou abaixo) dos carros.
Se quiser caminhar com alguma segurança de não tropeçar, preciso ir para o asfalto, próximo ao meio-fio ou me esfalfar na esteira da academia.
Estive em Brasília no carnaval e a comparação entre as cidades foi inevitável.
São Paulo é do carro como o céu é do avião. Sei que Brasília também privilegia o carro em seu projeto urbano e que existem problemas de acessibilidade, principalmente nas quadras comerciais, mas de qualquer maneira pude caminhar por calçadas largas e atravessar gramados e quarteirões por entre as colunas (pilotis) dos edifícios residenciais com, no máximo, seis andares.
Na faculdade
Aprendi na faculdade que é preciso promover a integração entre público e privado. Aprendi também que edifícios com altura reduzida têm uma proporção mais humana.
É possível, da janela do sexto andar, olhar as crianças que brincam, e acenar para quem passa. Isso torna a cidade muito mais segura que os rolos de arame farpado eletrificado sobre os muros e fachadas.
As duas cidades vistas pela janela do avião me fizeram sonhar.
Como seria bom se eu pudesse cuidar um pouco de todos e todos pudessem olhar por mim.
Era a máxima dos Três Mosqueteiros. Seria o máximo hoje.
Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa