Há alguns meses minha filha do meio se mudou para o sul da Bahia.
Não vou dizer que fiquei exatamente feliz quando, depois de umas férias por lá, ela pediu demissão de seu emprego em São Paulo, lotou seu carro com tudo que achou necessário e ganhou a estrada rumo ao norte.
Pensei nos colégios onde ela havia estudado, no curso de inglês, na faculdade e cheguei à conclusão (precipitada?) de que ela estaria jogando tudo pela janela.
Não disse nada, mas nem precisava.
Pela minha cara, ela, acostumada ao pai que tem, já sabia o que acontecia dentro de minha cabeça e de meu coração. Afinal, além da carreira colocada de lado, eu já sentia saudade dela, mesmo antes de vê-la partir em seu carrinho vermelho.
Neste final de semana fui visita-la em sua cabana junto à mata.
Me chamou muito a atenção o símbolo da Apple colado à porta rústica de madeira. Imediatamente me veio à mente a imagem da maçã com o perfil de Steve Jobs no lugar da mordida, homenagem de uma designer chinesa à época da morte do homem que mudou nossa relação com o computador.
Steve Jobs
Continuei olhando aquela maçã e relembrando a biografia de Steve Jobs.
Ele abandonou a faculdade e meses depois, ainda meio perdido, resolveu se inscrever em um curso de caligrafia.
O que a princípio parecia uma coisa sem o menor sentido, se tornou depois o ponto forte de seu projeto gráfico para os computadores portáteis.
Continuei parado ali, agora rindo de mim mesmo e me achando meio ridículo de pensar que podemos ter controle sobre as decisões que tomamos em nossa vida. Não podemos e isso é maravilhoso.
Será que teríamos a Apple se Steve Jobs não houvesse jogado tudo para o alto?
A porta se abre e abraço minha filha feliz da vida.
Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa