Estava na hora de pintar o escritório. Depois de dois anos numa esquina movimentada as paredes começam a ganhar um tom acinzentado muito particular.
Uma coisa é abrir a cartela de cor e escolher aquele gris, meio assim… Rato.
Outra bem diferente é abrir a porta e perceber que o branco virou cinza ratazana.
No final de semana anterior ao da pintura resolvi fazer uma limpeza nas pilhas de coisas que compõem o acervo. Entenda por acervo uma sala com amostras de piso, restos de madeira, caixas com retalhos de tecidos, móveis a serem restaurados e uma infinidade de coisas sem utilidade imediata, mas muito úteis no futuro.
E o futuro chegou para algumas delas nesse final de semana.
Conforme fui separando e organizando, percebi que os retalhos tinham na sua maioria uma ligação que me agradava. O grafismo preto e branco combinava com o floral colorido que ia bem com o listrado nos mesmos tons, que juntava com o liso…
Espalhados pelo chão a ideia começou a ganhar forma.
Que tal forrar cada pedaço de madeira com um pedaço de tecido?
Formei um grande retângulo com as madeiras e fui estofando um a um com os retalhos. Como resolvi usar o painel como cabeceira de cama tive o cuidado de rechear com manta acrílica para ficar gostoso de encostar.
O escritório ficou branco e organizado e o quarto colorido e bem-humorado.
Tinha razão o saudoso Millor Fernandes: livre pensar é só pensar.
Décio Navarro, Arquiteto, Designer e colunista Arquitecasa