Ser e pertencer!

Ser e pertencer!

Aproveitei o final de semana chuvoso e incorporei o caboclo destranca gaveta.
Minha intenção era esvaziar o armário e recolocar apenas o que realmente fosse importante. Tudo teria dado certo se eu não resolvesse abrir a mala de fotografias por onde comecei a limpar a primeira prateleira.

Quase uma hora, e muitas fotos depois, encontro meu pai e meus tios nos anos 1950 com pinta de galã, com seus indefectíveis bigodinhos aparados, cabelos emplastrados e um ou outro cacho solto na testa. Todos tentam se parecer com Clark Gable ou Robert Mitchum. Ao lado, minha mãe e minhas tias posam com seus cabelos de Lauren Bacall e Ava Gardner.

Copiavam tanto os ídolos do cinema que pareciam todos clones entre si.

Mudam os ídolos, mas “…ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.
Ai estão nossos adolescentes que não me deixam mentir. Todos querem ser Justin Bieber e Lady Gaga. E haja franja para cobrir os olhos e tinta para platinar os cabelos. Sem falar nos quilos de silicone que transformam uma esquálida oriental em Scarlett Johansson.

História

Em um álbum de viagem encontrei duas fotos de cadeiras que me chamaram a atenção. Na primeira, todas iguais, ocupavam a nave de uma igreja. Na segunda, todas diferentes, estavam expostas em forma de auditório no museu de artes decorativas do Louvre.

Cadeiras são as peças do mobiliário onde mais se investiu em projeto em todos os tempos. Isso porque, na minha opinião, elas são a continuação do corpo humano.

E a comparação foi inevitável.

Primeiro imaginei um auditório lotado de pessoas, todas preocupadas em se parecer com o ídolo da vez. Todas iguais, como as cadeiras da igreja.
Depois imaginei um auditório onde as pessoas mostrassem o ouro de suas personalidades, com sua beleza particular expressa em formas e cores diversas.

Todas assumindo suas características individuais. Todas copiando as cadeiras na mostra do Louvre. Afinal somos apenas seres humanos.

Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa