Dos grandes centros urbanos para o interior e litoral

Dos grandes centros urbanos para o interior e litoral

Esvaziamento das metrópoles

Com as transformações causadas pela pandemia, muitas metrópoles ao redor do mundo sofreram um esvaziamento da sua população. Enquanto algumas pessoas tiveram que se acostumar com o home office, outras descobriram como valorizar a qualidade de vida mudando o local onde moram. O desejo por mais espaço, menos custos e mais tempo para aproveitar levaram a uma migração do centro das cidades para o interior ou litoral.

Uma em cada seis pessoas se mudou do imóvel onde morava durante a pandemia, segundo dados de pesquisa feita pelo QuintoAndar em parceria com a Offerwise. O levantamento mostrou que 73% dos brasileiros passaram a entender suas casas de forma diferente, e 16,5% acabaram decidindo alugar um outro espaço. O mesmo estudo aponta também que viver afastado dos grandes centros foi determinante para a mudança de 21,1% dos entrevistados.

O mercado imobiliário cresceu e motivou essa mudança, em meio a um cenário com as menores taxas de juros da história. Em 2020, os financiamentos imobiliários atingiram a marca recorde de R$ 123,9 bilhões (mais de 426 mil unidades financiadas) – aumento de 58% em relação a 2019.

A tendência de alta diminuiu no início de 2021. De R$ 17,4 bilhões em dezembro, o montante caiu para R$ 12,3 bilhões em janeiro e coltou a subir até quebrar o recorde mensal nos financiamentos, com R$ 18,4 bilhões. Os cinco primeiros meses deste ano registraram avanço de 127% em relação ao resultado de 2020, somando R$ 77,3 bilhões.

As novas necessidades de moradia influenciam essa movimentação. Agora não basta apenas ter o básico em uma casa, é preciso abrir espaço para um escritório também. Muitos profissionais devem permanecer trabalhando em casa mesmo com o fim da pandemia e isso exige o mínimo de estrutura para garantir resultados.

Mudança no trabalho

Um dos motores que impulsionam a migração atual é justamente a mudança nas relações de trabalho que veio com a pandemia. A jornada de quem manteve o emprego durante o período de isolamento social caiu 14%. A renda média, igualmente, diminuiu 20%, segundo pesquisa da FGV-RJ. Muitos brasileiros fizeram as malas em busca de vida mais simples e com maior qualidade. Houve uma inversão inesperada nas prioridades das famílias. Para as classes mais abastadas, ganhar dinheiro passou a ser menos importante do que aproveitar a vida.

Outro estudo, desta vez do Ipea, mostrou que quase um quarto das ocupações brasileiras estava apta para entrar em regime de home office. As pessoas que mais se veem à vontade nestes tempos para mudar de vida são as que atuam no mercado financeiro e/ou tecnologia.

Investimento

Especialistas preveem que a migração de pessoas com recursos suficientes para sustentar duas casas deve transferir riqueza e alterar de forma relevante o perfil de consumo dos municípios médios e pequenos. Cidades com até 500 mil habitantes concentram 68% da população e 58% do PIB. A expectativa é que essa proporção seja cada vez maior, à medida em que o agronegócio continue crsecendo. Este fato, somado à busca por qualidade de vida, deve mudar a cara do interior.

Dados do Grupo ZAP já indicam esse aumento expressivo na busca por imóveis no interior de São Paulo desde os cinco primeiros meses de 2020. Neste mesmo ano, a procura por imóveis nas cidades localizadas a mais de 100 quilômetros da capital paulista subiu 340%. A comparação foi feita entre o mês de janeiro, antes da pandemia chegar ao Brasil, e o mês de maio, quando as medidas de isolamento já haviam sido adotadas no país. Essa demanda confronta a oferta de imóveis e abre espaço para o crescimento do segmento de obras residenciais, em especial para o de construção de casas.

A busca por casas em condomínios, bairros ou chácaras representavam 0,5% do total na plataforma no primeiro mês do ano. Em maio, este percentual subiu para 2,2%. Os números indicam também uma boa oportunidade de investimento para quem estiver atento ao aumento na demanda por casas concebidas para receber com mais qualidade aos novos moradores definitivos, ao invés dos antigos moradores de final de semana.

Millenials

A busca por mais qualidade de vida e migração para cidades menores é muito percebida também entre os millenials. A geração dos nascidos entre as décadas de 80, 90 e início dos anos 2000 têm encabeçado a saída dos grandes centros em busca de uma vida melhor. Diversas pesquisas mostram que os jovens que estão chegando na vida adulta priorizam seu bem-estar ao tomar decisões.

Imagem: Julia Craice on Unsplash