Corria os anos 1990 e a direção de arte para a implantação da revista ELLE no Brasil havia me deixado de quatro. Para recuperar as forças, aceitei a sugestão de um amigo. Fui a um hotel fazenda na cidade de Cunha no vale do Paraíba em São Paulo.
Fui, gostei e voltei várias vezes. Tanto que comprei um pedaço de terra perto o suficiente da cidade para ouvir o sino da missa pela manhã e a Ave Maria à tarde.
Ainda em meus trinta anos, pensava que uma casa de campo deveria ter alguns quartos para a família. Além disso, deveria ter acomodações para os hóspedes, ambientes muito amplos, churrasqueira, piscina e coisa e tal. Enquanto não definia o projeto, construí um espaço para acompanhar a futura obra. Era um pequeno quarto com varanda fechada por conta do frio, uma bancada com mini fogão e frigobar. Depois o quarto seria usado como sauna e a varanda como área de jogos e de lazer.
Suíte presidencial
O tempo passou, fui ficando menos bobo e vi que aquele espaço era tudo o que a família precisava para relaxar e eu para curtir o jardim que comecei antes de tudo. Umas pequenas mudanças e a sauna, ampliada, virou um bom dormitório para as três meninas. A varanda envidraçada ganhou ares de sala com uma pequena cozinha. Já o porão se transformou na “suíte presidencial” do casal, como brincam nossos amigos.
As montanhas suaves foram fonte de inspiração para a cabana que acompanha as linhas da paisagem e mal é vista da estrada. A mesma fonte usada na primeira metade do século XX pelo arquiteto americano Frank Lloyd Wright em suas casas de pradarias nos arredores de Chicago. Esse mestre no uso das proporções, inclusive do mobiliário de suas residências, é uma de minhas referências desde a faculdade.
No ano passado inclui um novo deck junto à sala-varanda. Ao invés do guarda-corpo convencional, usei bancos de eucalipto com 45 cm de altura, feitos sob medida para o espaço. Com essa proporção, além de não perdermos a paisagem, podemos deitar sobre eles para ouvir estrelas, colocar as pernas pro ar num momento de contemplação ou sentar de cócoras em banquinhos de meditação e tomar o café da manhã apreciando o silêncio dos hibiscos em flor.
Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa