Uma semana depois e continuo ainda sob o efeito do carnaval em Brasília.
O lugar é um sossego nos cinco dias de Momo. Afinal a Capital Federal precisa de uma trégua dos outros 360 dias de desfiles de fantasias e de carros alegóricos.
De volta a São Paulo tentei atravessar a cidade em direção à Barra Funda. Depois de quase uma hora e alguns quarteirões voltei a meu escritório próximo ao Ibirapuera. Se o porta-malas não estivesse lotado de latas e objetos eu poderia, como de outras vezes, ter virado tatu e chegado a meu destino de metro.
Quem é tatu sabe que o ir e vir sem carro reserva sempre alguma surpresa.
Mês passado pude rever, por exemplo, o Teatro São Pedro. Não passava por lá desde os anos 1980. Nessa época o espaço já sofria de um abandono crônico, mas acabou sendo salvo pelo tombamento em 1984.
Parei para olhar mais atentamente os detalhes neoclássicos e art nouveau típicos das construções ecléticas do começo do século XX. Percebo que eles têm importância inversamente proporcional à pureza de formas dos edifícios modernistas da metade do século XX. Se ali o trabalho do arquiteto/engenheiro incluía um projeto especial para ornamentar a fachada, aqui a fachada é o resultado do projeto estrutural.
Arcos
Veja que a sequência de arcos que desenha a fachada do Palácio do Itamaraty é a mesma que sustenta o vão livre de concreto do edifício. Suas formas em arco pleno obedecem o caminho das forças projetadas pelo peso da laje sobre as colunas.
Observe também que as colunas são delgadas quando olhadas de fora, e mais encorpadas quando olhamos internamente. Um dos truques de leveza do mestre Niemeyer e sua equipe.
Para mim o Teatro São Pedro está para as construções romanas, menos iluminadas, como o Itamaraty está para as catedrais góticas banhadas de luz.
Lindas a seu tempo e possibilidades.
Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa