Sou capaz de passar uma manhã inteira percorrendo os labirintos empoeirados e pouco iluminados, forrados até o teto com caixas de azulejos antigos. É uma festa para os olhos. Ao menos para os meus que, além de coçar com a poeira, encantam-se a cada nova descoberta de tom, de desenho e de memória. Sim, de memória.
Temos arquivado dentro de nós um repertório que é ativado por meio de estímulos gráficos, cromáticos e sensoriais daquilo que nos rodeia. Assim, vou recolhendo pelos corredores dos cemitérios de azulejos aquilo que mais me chama atenção.
Espalho tudo sobre o balcão e faço combinações aleatórias, deixando que a intuição guie meus olhos e minhas mãos. Num segundo momento a razão passa a fazer parte do jogo e seleciono as peças pelo estilo de desenho, pelos tons e pelos formatos, até que uma composição se mostre atraente.
Tons frios
Neste trabalho escolhi azulejos lisos em tons frios (preto e cinzas) e misturei com tons quentes (rosa, amarelos e marrom). Separei outras peças com grafismos típicos dos anos 1960 e 70 e mandei reproduzir em adesivos brancos (os azulejos eram em laranjas e verdes e vermelhos).
Depois de fixar todo o conjunto à parede, os adesivos foram colados de forma aleatória.
Se quiser dar um tempero mais colorido, faça os adesivos nas cores dos azulejos e vá invertendo a colocação. O rosa sobre o preto. O preto sobre o marrom, o marrom sobre o amarelo e assim por diante.
Mexa a gosto.
Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa