Uma amiga jornalista muito querida com quem já compartilho da amizade e da competência por bons anos me fazia rir muito quando, nos workshops dos quais participávamos, surgia uma atividade chamada vivência. Ela tinha pavor a essas práticas e sempre que podia sumia.
Lembrei de minha amiga neste final de semana, pois ao contrário dela eu sempre ficava.
Participei do retiro – O Despertar do Vivente – onde o filósofo, escritor e padre ortodoxo Jean-Yves Leloup nos levou a perceber, por meio de suas palestras e seções de meditação, que a vida é muito mais leve e saborosa do que ela muitas vezes se apresenta.
É que o dia-a-dia, principalmente nas grandes cidades, encurta a percepção de nosso eu mais profundo e de tudo aquilo que nos cerca. E esse tudo fica cinza, pesado e sem graça.
Nossos gurus da bossa nova já pediam muita calma pra pensar e tempo pra sonhar.
E eu, sumo sacerdote dos muito, muito nervosos gostei de lembrar que isso é possível.
Ouvi-lo falar sobre a beleza que nos cerca e sobre a necessidade de abrir nosso olhar e dar-nos tempo para a contemplação foi um sopro de tranquilidade sobre meu ser vivente e estressado.
De volta à cidade
De volta à cidade, comecei a por em pratica o ‘aqui e agora’ e vi, com olhos lavados, que flores de ipê e novos grafites se espalham pelos muros e pelas calçadas.
Essas intervenções gráficas urbanas mostram que o artista está sempre atento ao que acontece e deixa seu recado impresso no caos. Que veja quem tem olhos!
Na cidade de Kaunas, na Lituânia, o artista plástico Morfai nos mostra seu olhar atento.
Ele usou a sombra da estátua O Semeador, projetada sobre o muro, como ponto de partida para desenhar um punhado de estrelas. O conjunto ganhou tamanha força que a estátua (real?) se juntou à sua sombra (irreal?) e passaram a se chamar O Semeador de estrelas.
Platão, em seu mito da caverna, gostaria de ver isso.
Você tem mais sorte: veja os estudos feitos pelo artista até chegar nesta solução.
Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa